Na literatura desportiva e em diálogos com pessoas ligadas a área do desporto e saúde, frequentemente ouvimos falar em ácido lático e no seu acúmulo. Assim sendo, aqui ficam algumas noções acerca do mesmo de forma a esclarecer aqueles menos informados.
O ácido láctico ou lático ( do latim lac, lactis, leite), é um composto orgânico de função mista ácido carboxílico - álcool que apresenta fórmula molecular C3H6O3 e estrutural CH3 - CH ( OH ) - COOH.
Participa de vários processos bioquímicos, e o lactato é a forma ionizada deste ácido.
Para realizar quase todas as tarefas que o nosso corpo executa para a nossa sobrevivência (funções biológicas), ou para que possa realizar uma ação do nosso comando (movimentos e exercícios), é necessário um gasto energético para que tal aconteça.
Esta energia é proveniente de uma molécula chamada ATP (adenosina trifosfato – uma molécula universal condutora de alta energia, fabricada em todas as células vivas como um modo de capturar e armazenar energia. À medida que o corpo vai realizando as suas funções, o ATP é degradado e, consequentemente, depois, é restaurado por outra fonte energética que pode ser proveniente da fosfocreatina (uma outra molécula geradora de energia), das gorduras, dos carboidratos ou das proteínas.Conforme as necessidades energéticas vão avançando, o corpo utiliza o pouco ATP que ele tem disponível para realizar as suas funções.À medida que o ATP acaba, é solicitado o uso da fosfocreatina para ressintetizar o ATP, porém a fosfocreatina também é pouca no nosso organismo. Então as necessidades energéticas continuam e o nosso organismo solicita outro macronutriente para realizar a ressintese do ATP. Entretanto, neste momento o nosso corpo precisa fazer uma escolha, precisa determinar qual o substrato energético a utilizar: gordura, na forma de triglicerídeos, ou carboidratos, na forma de glicose ou glicogênio muscular. Essa escolha irá depender de dois fatores: (1) a velocidade do ATP; e (2) se há ou não a presença de oxigênio durante o processo de transformação.
Na presença de oxigênio e na pouca necessidade de solicitação deste macronutriente, o organismo utilizaria a gordura para ressintetizar ATP, uma vez que a gordura gera mais ATP que a glicose, e a sua fonte é praticamente ilimitada no nosso corpo, não o levando ao risco de sofrer pela má utilização deste substrato. Por outro lado, na necessidade de alta velocidade de ressíntese do ATP o organismo irá optar pela glicose ou glicogênio hepático e muscular, como acontece em exercícios extenuantes e muito intensos. Isso também ocorreria na ausência de oxigênio durante o processo de transformação para gerar energia, chamado de ciclo da glicólise. Esse ciclo seria capaz de gerar energia suficiente para a ressintese do ATP, mas teria um efeito indesejável, a produção de ácido lático (um subproduto "tóxico" gerado no decorrer do ciclo de ressintese do ATP), que faria com que o exercício fosse interrompido minutos depois pela instalação da fadiga muscular dos músculos ativos (músculos exercitados).
Como responde o organismo na presença do Ácido Lático?
Depois que o lactato é formado no músculo, difunde-se rapidamente para o espaço intersticial e para o sangue. Dessa forma, a glicólise continua a fornecer energia anaeróbica para a ressíntese do ATP. Essa via para a energia extra continua a ser temporária, pois os níveis sanguíneos e musculares de lactato aumentam e a regeneração do ATP não consegue acompanhar o seu ritmo de utilização. A fadiga instala-se de imediato e diminui o desempenho nos exercícios. A maior acidez intracelular e outras alterações medeiam a fadiga, pela inativação de várias enzimas na transferência de energia e pela deterioração das propriedades contráteis do músculo. Entretanto, a maior acidez (pH mais baixo), por si só, não explica a redução na capacidade de realizar exercícios durante um esforço físico intenso.
O que acontece com o ácido lático e como é o processo de sua remoção?
O ácido lático é removido do sangue e dos músculos durante a recuperação após um exercício exaustivo. Em geral, são necessários 25 minutos de repouso-recuperação para remover metade do ácido lático acumulado.
A fadiga surge após os exercícios nos quais se acumularam quantidades máximas de ácido láctico. A recuperação plena implica remoção desse ácido tanto do sangue quanto dos músculos esqueléticos que estiveram ativos durante o período precedente de exercícios.
Em geral, pode-se dizer que são necessários 25 minutos de repouso-recuperação após um exercício máximo para se processar a remoção de metade do ácido lático acumulado. Isso significa que cerca de 95% do ácido lático serão removidos em 1 hora e 15 minutos de repouso-recuperação, após um exercício máximo.
Existem quatro destinos possíveis para o ácido lático:
1) Excreção na Urina e no Suor – Beber bastante água e fazer exercício físico. Sabe-se que o ácido lático é expelido através da urina e do suor. Entretanto, a quantidade de acido lático é assim removida durante a recuperação após o exercício. Fazer sauna é igualmente bom.
2) Conversão em Glicose e/ou Glicogênio – Já que o ácido lático é um produto da desintegração dos carboidratos (glicose e glicogênio), pode ser transformado de novo em qualquer um desses compostos no fígado (glicogênio e glicose hepáticos) e nos músculos (glicogênio muscular), na presença de energia ATP necessária. Contudo, a ressíntese do glicogênio nos músculos e no fígado é extremamente lenta, quando comparada com a remoção do ácido lático. Além disso, a magnitude das alterações nos níveis sanguíneos de glicose durante a recuperação também é mínima. Portanto, a conversão do ácido lático em glicose e glicogênio é responsável apenas por uma pequena fração do ácido lático total removido.
3) Conversão em Proteína – Os carboidratos, incluindo o ácido lático, podem ser convertidos quimicamente em proteína dentro do corpo. Entretanto, também foi demonstrado nos estudos que apenas uma quantidade relativamente pequena de ácido lático é transformada em proteína durante o período imediato de recuperação após o exercício.
4) Oxidação/Conversão em CO2 e H2O – O ácido lático pode ser usado como combustível metabólico para o sistema do oxigênio, predominantemente pelo músculo esquelético, porém o músculo cardíaco, o cérebro, o fígado e o rim também são capazes dessa função. Na presença de oxigênio, o ácido lático é transformado, primeiro, em ácido pirúvico e, a seguir, em CO2 e H2O no ciclo de Krebs e no sistema de transporte de eletrões, respectivamente. É evidente que o ATP é ressintetizado em reações acopladas no sistema de transporte de eletrões.
O uso do ácido lático como combustível metabólico para o sistema aeróbico é responsável pela maior parte do ácido lático removido durante a recuperação após um exercício intenso.
Desta forma,foi observado em pesquisas que, o aumento dos níveis de lactato observada nos indivíduos treinados quando exercitados agudamente foi significativamente menor que a observada nos sedentários.
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